segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O número de doses de antibióticos consumidas no Brasil está entre os maiores do mundo, superando a média da Europa, Canadá e Japão. Os dados estão em um relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde), que alerta para as consequências do uso indiscriminado desse tipo de medicamento.


  A principal preocupação da agência é que o consumo indevido favoreça o surgimento de bactérias multirresistentes causadoras de infecções difíceis de curar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O levantamento da OMS incluiu os dados de 65 países onde as informações são coletadas de forma rigorosa. O indicador foi o número de doses diárias (DD) consumidas para cada mil habitantes. No Brasil, o índice ficou em 22 DD para cada mil, o que coloca o País como o 19º maior consumidor do remédio entre as 65 nações pesquisadas.
Na Europa, a média é de 18 doses, enquanto no Canadá e no Japão o índice medido foi de 17 e 14 DD, respectivamente.
O relatório mostra grande variação do consumo do medicamento entre os países. O índice variou de 4 no Burundi (África) a 64 DD na Mongólia (Ásia).
OMS e especialistas ressaltam, porém, que índices muito baixos de consumo também não são positivos. A grande diferença no uso de antibióticos indica que alguns países provavelmente abusam no consumo enquanto outros não têm acesso suficiente aos remédios.
Diretora médica do Serviço de Microbiologia do Laboratório Central do Hospital das Clínicas, Flávia Rossi concorda. “Tanto o uso excessivo quanto o pouco uso são preocupantes”, diz ela, que defende, no caso do Brasil, medidas para reduzir o consumo inadequado.
“Uma das principais ações seria investir em melhorias nos métodos diagnósticos para que a prescrição do medicamento seja mais certeira. Precisamos, principalmente no sistema público, de mais investimentos nos laboratórios de microbiologia para que o médico e o doente saibam de forma mais rápida qual é o micro-organismo causador da doença”, declarou Flávia, que faz parte de um grupo de especialistas convocados pela OMS para discutir protocolos para o uso racional de antibióticos entre humanos e animais.
Suzanne Hill, chefe da Unidade de Medicamentos Essenciais da OMS, afirma que é esse uso inadequado que tem levado a uma resistência cada vez maior das bactérias aos produtos. Isso acontece quando pacientes usam antibióticos em situações em que não precisam ou quando não terminam o tratamento, dando a chance para que parte das bactérias resista e crie “imunidade” ao remédio.
Diante disso, a Associação Panamericana de Infectologia, em parceria com a farmacêutica Pfizer, lançou esta semana campanha nas redes sociais para conscientizar pacientes sobre o uso racional dos remédios. “A ideia é mostrar que pequenas ações, como o uso conforme prescrito pelo médico e o descarte correto, podem salvar milhões de vidas”, diz Eurico Correia, diretor médico da Pfizer.
A resistência bacteriana têm preocupado autoridades brasileiras. Em 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) endureceu a regra para prescrever antibióticos. Quase todos os remédios do tipo passaram a ser vendidos só com a retenção da receita. Questionada nesta terça-feira, 13, sobre os efeitos da medida, a Anvisa disse não conseguiria responder no prazo.
Vítimas
Apenas a resistência aos antibióticos que tratam de tuberculose causa 250 mil mortes por ano. Além desse, a OMS já identificou 12 casos em que a resistência a produtos no mercado já é uma ameaça.
No total, 51 novos antibióticos estão em diversas etapas de avaliação e teste. Mas desses, só oito são classificados pela OMS como “tratamento inovadores”. Mas não há garantia de que cheguem ao mercado porque ainda precisam passar por todas as fases de pesquisa clínica.

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