terça-feira, 17 de julho de 2018

38 anos sem a Rede Tupi de Televisão, a pioneira na América do Sul



Depois de tentar
repassá-las a diversos interessados, entre eles o Grupo Abril, o
governo federal declarou peremptas (extintas) as concessões de
sete das nove emissoras Associadas: TV Tupi do Rio e de São
Paulo, TV Itacolomi, de Belo Horizonte, TV Rádio Clube, de
Recife, TV Marajoara, de Belém, TV Rádio Clube, de Fortaleza,
e TV Piratini, de Porto Alegre. 


Salvaram-se apenas a TV Brasília
e a TV Itapoan, de Salvador. Segundo o ministro das Comunica-
ções Sociais, Said Farhat, a decisão foi tomada depois de demorado
exame da situação das emissoras.
As dívidas com a União, com empregados e com bancos, tornavam
impossível sua transferência para outros grupos privados. Para
o Planalto, a cassação dos sete canais permitiria a criação mais rá-
pida de uma nova rede, que absorveria os empregados da Tupi. As
emissoras do Rio e de São Paulo seriam licitadas em bloco, para
proporcionar a formação de centrais geradoras. O Governo desejava,
também, que cinco das sete afiliadas ficassem com um único
dono, para constituir a nova rede.
O último e desesperado ato da Tupi teve como cenário o edifí-
cio da Avenida João Luís Alves. Na manhã do dia seguinte à decisão
do Governo Federal, 300 funcionários da sucursal do Rio de
Janeiro tomaram o palco da emissora para promover uma assembléia,
transmitida ao vivo e em cores pela TV. Eles lançavam apelos
dramáticos para que o presidente João Figueiredo voltasse atrás.
Logo cedo, Titos Belline, superintendente de programação no Rio e
um dos membros da comissão de funcionários, havia pedido ao
diretor da empresa, José Arrabal, permissão para levar ao ar um
apelo dos funcionários contra o fechamento da emissora. Arrabal
concordou que o apelo fosse feito durante o programa Aqui e Agora,
mas, quando a atração começou, o diretor cortou-a e pôs em seu lugar
um anúncio. Quase houve um confronto dentro do prédio. Pressionado,
Arrabal foi embora, deixando a TV nas mãos dos empregados.Vários artistas passaram pela Urca para dar seu apoio,
como Jô Soares, Juca Chaves e Costinha. Um antigo fã subiu ao palco
e começou a chorar, sussurrando no microfone: “Eu amo a Tupi”.
Às 23h30min, Carlos Lima conversou ao telefone com o ministro
das Comunicações, Haroldo Correa de Mattos. Lima propôs ao
ministro que passasse o controle da emissora para os funcionários.
O ministro respondeu, simplesmente, que não poderia prometer
nada, que era preciso dar tempo ao tempo. Fernando, filho mais
velho de Chateaubriand, fazia apelos patéticos ao presidente: “Em
nome da amizade que unia os nossos pais, peço que entregue as
estações aos funcionários, para que eles façam a segunda maior
rede do país”. De vez em quando, ia ao ar um anúncio. Ou então,
um operador de câmera focalizava algum colega chorando copiosamente.
Um pastor protestante puxou uma oração e foi aplaudido. À
meia-noite, todos rezaram de mãos dadas. Em São Paulo, o clima
era bem diferente. Os funcionários estavam divididos entre grevistas
e aqueles que insistiam em permanecer trabalhando.
De nada adiantaram os apelos nem as orações. O Diário Oficial
da União de 18 de julho de 1980 circulou com os decretos assinados
pelo presidente João Figueiredo, que declaravam peremptas as
concessões ao grupo Associado de sete emissoras, em São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Belém e Fortaleza.
O decreto determinava que o Departamento Nacional de
Telecomunicações (Dentel) adotasse providências para interrom-per imediatamente as transmissões. Naquele mesmo dia, um selo
de metal colocado sobre a tampa dos transmissores da Tupi lacrava
os aparelhos e encerrava   um ciclo de vida da emissora primeira.
Da mesma
maneira chegou ao fim a Rede Manchete, emissora originária da
segunda parte da concessão da Tupi, comprada por Adolpho Bloch.


Em 1998, três anos depois da morte de Bloch, a Manchete foi vendida
para a TV Ômega, que criou uma nova emissora, a Rede TV!,
tirando do ar tudo o que fosse relacionado à antiga.
Em novembro de 2003, um pouco da Tupi voltou ao edifício
que sediou o canal 6 carioca. Depois de uma limpeza e de alguns
reparos, o prédio da Urca foi reaberto para anunciar que ali seria
implantado o Museu do Rio. Na cerimônia que marcou o recebimento
das chaves pelo prefeito Cesar Maia, estiveram presentes
ícones como Neyde Aparecida, Agildo Ribeiro e Maurício Sherman.
Agildo fez questão de mostrar onde ficava a platéia e o estúdio de
seu programa na emissora. 


Cyro del Nero 
Minha memória da Tupi se resume em emoção e amor por
companheiros que encontrei lá e estão hoje espalhados por muitas
redes de televisão. Ou que já não podem ser encontrados.
Se, nos anos 50 – e mesmo depois –, eu tivesse um filho que
quisesse se dedicar à televisão, indicaria para ele uma única escola
profissionalizante: a Tupi. Lá ele encontraria uma estrutura
básica e modelo para criação e produção dos programas para
televisão. Havia na Tupi um organograma não escrito, tradicional
e clássico para se criar televisão. Mais tarde, esse programa
seria substituído por outro que surgiu com a moderna criação de
uma grade de programação em rede pelas novas emissoras, sobretudo
a Excelsior.
E não seria apenas para que meu filho adquirisse um ofício,
mas para que ele integrasse um esprit de corps como nunca mais
encontrei nas outras televisões nas quais trabalhei. Os chamados
recursos humanos da Tupi excediam em dedicação e esta
era provada dolorosamente nos tempos finais da rede.

Nenhum comentário:

Postar um comentário